quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O comic relief como parte mais importante da vida

People come to me and say I changed their lives all the time, by these movies that they still remember and their kids watch them– it’s about who they are. They remember ‘Ghostbusters’ more than they remember an Ingmar Bergman movie, even though the Bergman movie is much more distinguished. - Ivan Reitman

Li esta citação há um mês e fez-me desejar que alguém inserisse digitalmente o Bill Murray na filmografia do Bergman. É um exagero, claro, mas demonstra a minha crença na importância do humor. Acho que a vida precisa de alguém que goze com aquilo, que esteja lá atrás a mandar umas bocas. Tudo se torna tolerável com uma dose de pouca seriedade.
Ontem fui ver, atrasadíssimo, o Avatar. Detestei. Fiquei triste e sem fé na Humanidade por ninguém saber aliar a inovação tecnológica ao bom gosto. O filme tem uma hora e meia a mais do que devia ter, o que não ajudou nada em termos da dor de cabeça que fiquei por estar a ver aquilo (que ainda se mantém e foi das piores que já tive, particularmente por não estar associada a nenhum tipo de consumo de álcool na noite anterior). Infelizmente, todos os meus amigos e pessoas que conheço já tinham ido ver o filme, pelo que fui sozinho. Gostava de ter tido alguém com quem partilhar o fiasco.
No Verão vi o G.I. Joe: Rise of the Cobra (tão ou menos ridículo que o Avatar, mas com menos dinheiro) e acho que nunca me diverti tanto (sem contar com bons momentos com o sexo oposto) numa sala de cinema na vida. O filme era tão mau, tão mal feito e tão idiota que não houve maneira de conter os meus comentários com um amigo meu. Outro amigo nosso, que estava ao lado, diz que os nossos comentários deviam ser publicados no DVD do filme. Passámos o tempo todo a dizer mal em tempo real e a rir muito em voz alta. Não foi desrespeito: era a sessão da meia-noite e meia de um domingo de Agosto no Arena de Torres Vedras, e, basicamente, se foste ver o G.I. Joe e estás a comer pipocas não mereces silêncio nem respeito.
Ambos são filmes de acção de Hollywood em que há um esforço para haver uma ou outra piada. Não têm piada, mas ao menos esforçam-se por ter. Há ali um ou outro apontamento cómico que, mesmo que não provoque em mim o riso, ao menos conforta-me saber que alguém teve o intuito de fazer rir.
Apesar disso, não quero com isto dizer que detesto filmes e livros tristes ou sem qualquer tipo de piadas. O The Road não tem uma única piada e gostei muito do livro. Do filme não tanto, mas aconteceu um fenómeno estranho ao vê-lo: não havia piadas propriamente ditas, mas, no meio de toda a seriedade e daquele mundo futuro pós-apocalíptico assustador, as pessoas iam soltando o riso. Adorei o The Wrestler, que não tem muita piada. Mas aí entra outro factor em jogo: foi escrito pelo Richard D. Siegel, que era headwriter do The Onion, e tem cómicos como o Todd Barry ou o Judah Friedlander em papéis secundários ou cameos. Eu sei isso e, para mim, funciona como uma rede de salvação. Do género: "OK, isto é triste, é deprimente, mas estas pessoas sabem rir e fazer rir." E conforta-me.
Ao contrário do que as hordas de adolescentes que adoram o Twilight acham, a vida não deve ser assim tão fatal, tão triste e tão séria. Fico noites inteiras acordado a pensar no futuro da juventude que cresce com aquilo e não com o Ghostbusters. Vão ser a geração mais aborrecida e assustadora do mundo. Sim, vamos todos morrer. Sim, nada disto quer dizer nada. Mas por que raio não devemos nós rir-nos disso? Sou um grande crente no comic relief, no facto de que se deve gozar com tudo e rir de tudo. Senão é tudo uma seca, uma chatice, uma tristeza. E, para isso, já me basta a vida em si.

Chauncey Gardiner

Sem comentários:

Enviar um comentário