domingo, 7 de fevereiro de 2010
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
Umas linhas finais (com ou sem punch)
Agora é questão de acompanhar o processo até ao fim - de ver como andam a crescer os filhotes. Sem exigências de maior, com grande flexibilidade e assim.
Algumas conclusões (que já trago de cursos e workshops anteriores) confirmaram-se:
- Não existe receita para escrever uma boa piada ou bom sketch.
- Tentar estender teoria (conceitos e isso) sobre a arte de escrever humor é em si um sketch.
- O melhor é mesmo pôr as mãos na massa. Ou por outra: o humor aprende-se humorando (obrigado Mia Couto) - exercitando-o, escrevendo piadas ao lado e tentanto dar-lhes o caminho certo em cada reescrita.
- Isto é tudo menos científico - daí as hesitações nalgumas opiniões, daí a mudança de orientações, daí uma piada que numa altura nos possa parecer boa poder desiludir-nos numa releitura.
- A vida tem o seu quê de belo.
Fiquei contente com esta turma - e não o digo por simpatia. A maior parte dos alunos não tinha escrito um sketch na vida. E agora já escreveu (e organizou) um guião de sketches vários. O que é, digamos, e para citar um poeta húngaro, extraordinariamente bacano.
Nesta confraria de direntes vocações e nervos, apesar das angústias naturais ("isto de escrever humor é muito difícil") e insatisfações, não houve ninguém que tenha falhado o objectivo de fazer o seu sapateado.
Treinaram-se também por aqui o brainstorm e os seus inevitávei s disparates e a humildade (por exemplo, nas decisões finais em relação ao guião). E, não menos importante, a festiva ingestão de poncha, a desenvolver, quem sabe, num futuro workshop só dedicado ao assunto.
E é isto.
Até já, ponchers. Continuem a aprendizagem e o regabofe.
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
Nao sei mas assim nao!
Penso que esta prenda poderá ser bastante útil! ;)
Cá vai a fórmula para entrar na cozinha ou noutro local sem assustar quem já lá está! :)
I. INT. COZINHA. NOITE
Ai que susto!
MARIDO
Desculpa! Não era essa a intenção!
MULHER
Tu não podes entrar assim na cozinha!
MARIDO
Assim como?
MULHER
Assim em silêncio! Assustaste-me!
MARIDO
Como queres que entre então?
MULHER
Não sei, mas assim não!
II. INT. COZINHA. NOITE
Eh pah assustaste-me!
MARIDO
Desculpa ‘mor.
MULHER
Mas por que raio entraste aqui a correr?
MARIDO
Ontem assustei-te porque entrei em silêncio, daí hoje ter entrado a correr!
Assim não!
MARIDO
Então como hei-de entrar sem te assustar?
MULHER
Não sei mas assim não!
III. INT. QUARTO. NOITE
O marido encontra-se no quarto a ler o jornal.
(gritando)
‘Mor daqui a pouco vou à cozinha!
Não te assustes quando me vires!
A mulher entra no quarto.
Qual é a tua? Assustaste-me com a tua gritaria!
MARIDO
A ideia era precisamente não te assustar.
MULHER
Não voltes a fazer isso, ok?
Ok. Olha e se fizéssemos o seguinte: a partir de agora para não te assustar eu só vou à cozinha a uma hora marcada.
MULHER
Ok. Parece-me bem.
MARIDO
Então a partir de agora vou à cozinha todos os dias ás 20h!
IV. INT. COZINHA. NOITE
A mulher está a preparar o jantar e o marido entra na cozinha.
Que susto!
MARIDO
São 20h. É a minha hora de vir à cozinha.
MULHER
Já são 20h? Nem dei pelo tempo passar!
Mas olha, tu não podes entrar assim!
MARIDO
Então como hei-de entrar?
MULHER
Não sei mas assim não!
V. INT. COZINHA. NOITE
A mulher está na cozinha a preparar o jantar. Entra um desconhecido.
Que susto! Quem é você? E o que quer?
DESCONHECIDO
Eu sou um mensageiro e vim apenas anunciar a chegada do seu marido à cozinha dentro de breves instantes!
Nisto entra o marido na cozinha.
Que brincadeira é esta Manel?
MARIDO
(gritando)
Consegui! Consegui!
Conseguiste o quê? E que brincadeira é esta?
MARIDO
Consegui descobrir a fórmula para entrar na cozinha sem te assustar!
(FIM)
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
Mata-me
O mal amado
Fevereiro 2010
genérico
Mercearia do Bairro
Está um homem de meia idade a limpar o estabelecimento, entra um cliente da mesma idade.
Merceeiro (Júlio)
Olá, João. Não te via há algum tempo.
João ( cliente)
Olá, Júlio. Nem te estava a ver! A Luisa saiu de casa e não tenho andado bem. Hoje venho eu às compras.
Júlio
Eu dou-te uma ajuda. É para isso que cá estou, para ajudar os clientes. Vê lá tu, parecia tão boa rapariga e dava-te tanto jeito. Agora com esta idade, já não arranjas ninguém, vai ser uma chatice para ti...
João
Achas? Ainda me sinto tão novo e ágil.
Júlio
Parece, meu querido, parece. E olha não desmoralizando, vai ficar ainda pior. Bem pior. De dia para dia. Diz lá do que precisas.
João
Para o jantar vou levar uma daquelas embalagens de bifes congelados que têm óptimo aspecto, para ver se ganho energia.
Júlio
Mas, estás doido? Sabes o que aquilo é? Aquilo de bife, não tem nada. É tudo modificado. Diz até que faz mal aos rins, para além disso, já nem há vacas! Vacas à séria.
João
Tens razão, então vou levar um peixinho, diz que faz bem à cabeça.
Júlio
Peixe? Aquilo só faz é cancro. Todo contaminado? Sabes o que eles comem? Plástico, alcatrão, gente morta...
João
Que horror, Júlio. Então, do que é que vou viver? Frutas e vegetais?
Júlio
Eu se fosse a ti, também não me metia nisso. Isto agora é só transgénicos. Mudaram o DNA todo ás bichinhas. Diz até que faz mal à pele. Ficas cheio de carrapatas penduradas.
João
Júlio. Tu estás a deixar-me preocupado. Tu falas como se não houvesse amanhã. Ainda me sinto pior do que quando entrei. Sem esperança, sem futuro...
Júlio
E fazes bem, porque não há. Pelo menos para mim. Estou a pensar matar-me hoje. Queres matar-te comigo ? Também, estás tão mal, que o melhor que fazias era matar-te também. O que achas? Fazias-me companhia.
Nisto entram 2 assaltantes no estabelecimento.
Assaltante
O dinheiro ou a vida?
João
A vida. A vida. Mata-me já aqui. Por favor mata-me.(enquanto se agarra à perna do assaltante)
Assaltante
Meu, tás te a passar! Umas Levi`s novinhas. Baza já daí.(sacode a perna)
João
Por favor. Por favor. Júlio, diz-lhe para me matar, faz lá esse favor aqui ao teu amigo.
Júlio
Sim, por favor matem-nos, matem-nos. Vocês são uma benção vinda do Céu. Aleluia. Aleluia. Aleluia! (agarra-se à perna do outro assaltante)
Assaltante
(para o outro assaltante)
Meu, vamos bazar. Estes ainda são piores do que nós. Gandas malucos! Achas que os gajos dão na erva?
Assaltante 2
Meu! Isto é muito à frente! São químicos quase de certeza, meu. Químicos. Os gajos tão todos queimados, meu. Bora aí bazar...deixa os manos curtir.(saem)
Júlio
Eu nem acredito ...foram-se embora...
João
Olha...pois foram...(com ar triste).Isto é um sinal, Júlio, um sinal. Vamos comemorar(ajuda o amigo a levantar-se). Ou achas que já modificaram a cerveja e as miúdas também?(saem)
m o DNA todo ás bichinhas.