segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Humor e Literatura Segundo O JL VIII

JL: E no panorama nacional?

Isabel Ermida: Salvo melhor opinião, os portugueses são mais tristonhos também no ofício literário. Exceptuando as cantigas trovadorescas de escárnio e mal-dizer, os autos satíricos de Gil Vicente e, mais tarde, os poemas ousados de Bocage, a literatura lusa não abunda em exemplos de humor assumido. É claro que Eça é senhor de uma finíssima ironia humorística, fazendo uma sátira de costumes que continua, de tão intemporal, a provocar o riso nos nossos dias. Mas o que temos sobretudo é ocorrências de humor na literatura, mais do que "literatura humorística" propriamente dita. Por exemplo, Mário de Carvalho escreve com indesmentível humor, e até em Lobo Antunes o cómico marca presença: umas três boas gargalhadas em quinhentas páginas não são um mau saldo. Mas de um modo geral não me parece que seja pelo humor que a literatura lusa se destaca. Apesar disso, há a registar duas grandes antologias de humor português: a primeira de 1969, ed. Afrodite, conhecida por "o tijolo" de tão espessa; a segunda de 2008, ed. Texto, cobrindo 51 nomes, embora nem todos literários.

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