domingo, 7 de fevereiro de 2010
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
Umas linhas finais (com ou sem punch)
Agora é questão de acompanhar o processo até ao fim - de ver como andam a crescer os filhotes. Sem exigências de maior, com grande flexibilidade e assim.
Algumas conclusões (que já trago de cursos e workshops anteriores) confirmaram-se:
- Não existe receita para escrever uma boa piada ou bom sketch.
- Tentar estender teoria (conceitos e isso) sobre a arte de escrever humor é em si um sketch.
- O melhor é mesmo pôr as mãos na massa. Ou por outra: o humor aprende-se humorando (obrigado Mia Couto) - exercitando-o, escrevendo piadas ao lado e tentanto dar-lhes o caminho certo em cada reescrita.
- Isto é tudo menos científico - daí as hesitações nalgumas opiniões, daí a mudança de orientações, daí uma piada que numa altura nos possa parecer boa poder desiludir-nos numa releitura.
- A vida tem o seu quê de belo.
Fiquei contente com esta turma - e não o digo por simpatia. A maior parte dos alunos não tinha escrito um sketch na vida. E agora já escreveu (e organizou) um guião de sketches vários. O que é, digamos, e para citar um poeta húngaro, extraordinariamente bacano.
Nesta confraria de direntes vocações e nervos, apesar das angústias naturais ("isto de escrever humor é muito difícil") e insatisfações, não houve ninguém que tenha falhado o objectivo de fazer o seu sapateado.
Treinaram-se também por aqui o brainstorm e os seus inevitávei s disparates e a humildade (por exemplo, nas decisões finais em relação ao guião). E, não menos importante, a festiva ingestão de poncha, a desenvolver, quem sabe, num futuro workshop só dedicado ao assunto.
E é isto.
Até já, ponchers. Continuem a aprendizagem e o regabofe.
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
Nao sei mas assim nao!
Penso que esta prenda poderá ser bastante útil! ;)
Cá vai a fórmula para entrar na cozinha ou noutro local sem assustar quem já lá está! :)
I. INT. COZINHA. NOITE
Ai que susto!
MARIDO
Desculpa! Não era essa a intenção!
MULHER
Tu não podes entrar assim na cozinha!
MARIDO
Assim como?
MULHER
Assim em silêncio! Assustaste-me!
MARIDO
Como queres que entre então?
MULHER
Não sei, mas assim não!
II. INT. COZINHA. NOITE
Eh pah assustaste-me!
MARIDO
Desculpa ‘mor.
MULHER
Mas por que raio entraste aqui a correr?
MARIDO
Ontem assustei-te porque entrei em silêncio, daí hoje ter entrado a correr!
Assim não!
MARIDO
Então como hei-de entrar sem te assustar?
MULHER
Não sei mas assim não!
III. INT. QUARTO. NOITE
O marido encontra-se no quarto a ler o jornal.
(gritando)
‘Mor daqui a pouco vou à cozinha!
Não te assustes quando me vires!
A mulher entra no quarto.
Qual é a tua? Assustaste-me com a tua gritaria!
MARIDO
A ideia era precisamente não te assustar.
MULHER
Não voltes a fazer isso, ok?
Ok. Olha e se fizéssemos o seguinte: a partir de agora para não te assustar eu só vou à cozinha a uma hora marcada.
MULHER
Ok. Parece-me bem.
MARIDO
Então a partir de agora vou à cozinha todos os dias ás 20h!
IV. INT. COZINHA. NOITE
A mulher está a preparar o jantar e o marido entra na cozinha.
Que susto!
MARIDO
São 20h. É a minha hora de vir à cozinha.
MULHER
Já são 20h? Nem dei pelo tempo passar!
Mas olha, tu não podes entrar assim!
MARIDO
Então como hei-de entrar?
MULHER
Não sei mas assim não!
V. INT. COZINHA. NOITE
A mulher está na cozinha a preparar o jantar. Entra um desconhecido.
Que susto! Quem é você? E o que quer?
DESCONHECIDO
Eu sou um mensageiro e vim apenas anunciar a chegada do seu marido à cozinha dentro de breves instantes!
Nisto entra o marido na cozinha.
Que brincadeira é esta Manel?
MARIDO
(gritando)
Consegui! Consegui!
Conseguiste o quê? E que brincadeira é esta?
MARIDO
Consegui descobrir a fórmula para entrar na cozinha sem te assustar!
(FIM)
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
Mata-me
O mal amado
Fevereiro 2010
genérico
Mercearia do Bairro
Está um homem de meia idade a limpar o estabelecimento, entra um cliente da mesma idade.
Merceeiro (Júlio)
Olá, João. Não te via há algum tempo.
João ( cliente)
Olá, Júlio. Nem te estava a ver! A Luisa saiu de casa e não tenho andado bem. Hoje venho eu às compras.
Júlio
Eu dou-te uma ajuda. É para isso que cá estou, para ajudar os clientes. Vê lá tu, parecia tão boa rapariga e dava-te tanto jeito. Agora com esta idade, já não arranjas ninguém, vai ser uma chatice para ti...
João
Achas? Ainda me sinto tão novo e ágil.
Júlio
Parece, meu querido, parece. E olha não desmoralizando, vai ficar ainda pior. Bem pior. De dia para dia. Diz lá do que precisas.
João
Para o jantar vou levar uma daquelas embalagens de bifes congelados que têm óptimo aspecto, para ver se ganho energia.
Júlio
Mas, estás doido? Sabes o que aquilo é? Aquilo de bife, não tem nada. É tudo modificado. Diz até que faz mal aos rins, para além disso, já nem há vacas! Vacas à séria.
João
Tens razão, então vou levar um peixinho, diz que faz bem à cabeça.
Júlio
Peixe? Aquilo só faz é cancro. Todo contaminado? Sabes o que eles comem? Plástico, alcatrão, gente morta...
João
Que horror, Júlio. Então, do que é que vou viver? Frutas e vegetais?
Júlio
Eu se fosse a ti, também não me metia nisso. Isto agora é só transgénicos. Mudaram o DNA todo ás bichinhas. Diz até que faz mal à pele. Ficas cheio de carrapatas penduradas.
João
Júlio. Tu estás a deixar-me preocupado. Tu falas como se não houvesse amanhã. Ainda me sinto pior do que quando entrei. Sem esperança, sem futuro...
Júlio
E fazes bem, porque não há. Pelo menos para mim. Estou a pensar matar-me hoje. Queres matar-te comigo ? Também, estás tão mal, que o melhor que fazias era matar-te também. O que achas? Fazias-me companhia.
Nisto entram 2 assaltantes no estabelecimento.
Assaltante
O dinheiro ou a vida?
João
A vida. A vida. Mata-me já aqui. Por favor mata-me.(enquanto se agarra à perna do assaltante)
Assaltante
Meu, tás te a passar! Umas Levi`s novinhas. Baza já daí.(sacode a perna)
João
Por favor. Por favor. Júlio, diz-lhe para me matar, faz lá esse favor aqui ao teu amigo.
Júlio
Sim, por favor matem-nos, matem-nos. Vocês são uma benção vinda do Céu. Aleluia. Aleluia. Aleluia! (agarra-se à perna do outro assaltante)
Assaltante
(para o outro assaltante)
Meu, vamos bazar. Estes ainda são piores do que nós. Gandas malucos! Achas que os gajos dão na erva?
Assaltante 2
Meu! Isto é muito à frente! São químicos quase de certeza, meu. Químicos. Os gajos tão todos queimados, meu. Bora aí bazar...deixa os manos curtir.(saem)
Júlio
Eu nem acredito ...foram-se embora...
João
Olha...pois foram...(com ar triste).Isto é um sinal, Júlio, um sinal. Vamos comemorar(ajuda o amigo a levantar-se). Ou achas que já modificaram a cerveja e as miúdas também?(saem)
m o DNA todo ás bichinhas.
domingo, 31 de janeiro de 2010
Renato Brunetta
EXT. ENTRADA DE UMA CASA. DIA
Bom dia.
BRUNETTA
Bom dia minha Sra.
MULHER
Ahhh… O Sr. é o ministro Burreta, não é?
Aquele da lei dos 18 anos?!
Eu sou o ministro Renato Brunetta.
MULHER
Pois… Eu reconheci-o logo assim que o vi.
Em que posso ajudar, Sr. Burreta?
BRUNETTA
Tenho informação que vive cá em casa convosco o vosso filho de 18 anos.
MULHER
O meu filho vivia, já não vive!
BRUNETTA
Ai sim?
MULHER
Sim, eu acho muito bem isso da sua lei.
Os jovens têm que ir viver o mundo.
BRUNETTA
Fico então muito satisfeito por saber que estão a cumprir a lei.
Mãe, onde estão os meus boxers amarelos com uns porquinhos?
Oh mãe, não ouves? Os meus boxers preferidos tão onde?
MULHER
(gritando para o interior da casa)
A mãe já vai ver. Espera um pouco.
BRUNETTA
Com que então seu filho já cá não vivia?!
MULHER
Não me leve a mal, Sr. Burreta mas meu filho é ainda um bebé.
BRUNETTA
Aos 18 anos já tem mais do que idade para sair de casa dos pais!
MULHER
Ele nem sabe estrelar um ovo. Ele nem sabe fazer uma cama.
O Sr. por acaso com essa idade já sabia fazer isso?
BRUNETTA
(atrapalhado)
Antigamente eram outros tempos.
Sr. Burreta, ele não vai sobreviver sem nós, os pais. Ele ainda é um bebé, completamente indefeso, não conhece os perigos da vida, não saberá se defender, nem se desenrascar.
Lamento mas a lei é para cumprir. Com o tempo, ele aprenderá a desenrascar-se.
MULHER
Que mal lhe pergunte, o Sr. Burreta já tinha saído de casa com essa idade?
BRUNETTA
(atrapalhado)
A Sra. sabe perfeitamente que antigamente eram outros tempos, não se compara com agora.
Aparece o filho. Vem do interior da casa. Descrição do filho: muito alto, cerca de 1,90m, bastante musculado e veste apenas uns boxers.
Mãe esse nanico está a chatear-te? Se tiver eu trato já do assunto!
MULHER
Não, não está a chatear.
BRUNETTA
Eu sou o ministro Renato Brunetta e vim garantir que sais de casa dos teus pais e vás viver a tua vida.
(falando baixinho para o filho)
Este é aquele da lei dos 18 anos!
Ai sim? E como pretende garantir isso?
BRUNETTA
Nem que eu tenha que te tirar daqui com as minhas próprias mãos.
FILHO
Ai sim? Força nisso!
(falando baixinho para o filho)
Vai lá para dentro filho que eu trato disto!
FILHO
(falando para a mãe)
Quero ver como este nanico de homem me vai tirar daqui!
BRUNETTA
Eu preferia que as coisas fossem ao bem mas pronto.
Então os seus macacos de estimação conseguiram pensar por si próprios?
Eh pah, tem uns macacos inteligentes!
BRUNETTA
Bem, estive aqui a analisar a situação.
Penso que se poderá abrir uma excepção, visto que o seu filho ainda é claramente um bebé, que ainda não reúne as condições para habitar sozinho.
MULHER
Obrigada Sr. Burreta.
(com ar irónico)
O quê? Já acabou a diversão? Eu estava a divertir-me tanto.
Oh Sr. nanico (sem ofensa claro) quer estar presente numa festa que eu vou dar para a semana? Iria ser brutal ter lá a sua presença! O Sr. é tão divertido!
O ministro nada diz. Apanha o casaco e a gravata e dirige-se para o carro.
(FIM)
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
Quem conta um conto... II

I. INT. MERCEARIA. MANHÃ
Bom dia Sr. Vasco!
VASCO
Então Sra. Júlia pelo que estou a ver já está bem melhor!
JÚLIA
Foi uma gripe mas já passou.
Acho que o Pedro e a Bruna fugiram os dois!
VASCO
Fugiram?
JÚLIA
De certeza, eu já não os vejo a nenhum dos dois há uns dias.
Demasiada coincidência não?
VASCO
Mas eles namoravam?
JÚLIA
As evidências dizem tudo!
VASCO
Isto de facto! O mundo está perdido.
As jovens de hoje em dia não têm juízo.
VASCO
Já no outro dia, uma miúda de 18 anos fugiu com um padre.
Agora só se vê é disto.
VASCO
O que vai hoje Paula?
PAULA
Vim apenas comprar uns chocolates.
VASCO
Podes escolher os que quiseres. Está à vontade.
PAULA
Obrigada Sr. Vasco.
Já sabes que a tua amiga Bruna foi viver para a Alemanha com o Pedro?
PAULA
A Bruna e o Pedro? Não, não sabia!
VASCO
Imagino como estará a mãe dela. De rastos com certeza!
Anda uma mãe a criar uma filha para isto!
A mãe compreenderá com certeza!
II. INT. CASA BRUNA. DIA
A campainha toca. Bruna vai abrir a porta.
Paula? Não tava à tua espera…
PAULA
Amiga, soube agora que o Pedro te tinha raptado e vim logo assim que soube!
BRUNA
Raptado?
PAULA
Conta tudo: manteve-te em cativeiro onde? Numa casa abandonada no meio da floresta? Ai que excitação!
Onde foste buscar essa história? Tás maluca?
PAULA
Contaram-me na mercearia aqui da vila…
BRUNA
Se eu tivesse sido raptada não tava aqui à tua frente!
PAULA
(com ar pensativo)
Humm… Não penses que me enrolas com essa desculpa.
BRUNA
Não é desculpa! Não há rapto nenhum!
Não percebo porque não confias em mim, eu conto-te as minhas cenas todas. Já tu!
BRUNA
Contaria se houvesse algo para contar.
Isso são histórias que inventam, já sabes como o povo da vila é!
PAULA
Vá conta lá! Tou em pulgas para saber os pormenores! Deve ser uma excitação estar numa casa no meio do nada, com os pés e as mãos amarrados…e o Pedro é um homem bonito, charmoso e com tudo no sitio!
BRUNA
Pela última vez: não foi raptada, nem pelo Pedro, nem por ninguém! Tu agora acreditas em tudo o que te dizem?
Vim raptar-te novamente por uns minutos!
(FIM)
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
O TIO
À porta da sopa do pobre está uma pequena multidão de pessoas, que entram, saem, ou simplesmente conversa.
Ao longe, começa a aparecer uma limusine, que acaba por estacionar à porta da mesma
Interior do carro
Um homem na casa dos 30/40 anos fala ao telefone, com ar preocupado.
Tio
A menina é tonta? Convidar a Cachucha Maria? Já não bastava ser eu a levar o jantar, e agora ainda para mais, a menina convida essa histérica? Já viu o que ela come? Aquilo só para ela é um ordenado.
Acabou de me fazer três rugas com a conversa, sua oca, que não pensa. Deixe lá, quem leva comida para dois, também leva para quatro.
Põe a mão na testa em sinal de desespero
Não Patucha, bolas que você é burra. Pense, menina, pense. Claro que não convidei mais ninguém, a Cachucha é que come por duas. Mas que parva, não percebe nada. Vou a caminho levantar o nosso jantar. A despesa que a menina me arranjou Vou só cumprimentar e agradecer à Anucha, por nos preparar a ceia desta noite. Sabe como é, ama-de-leite é quase mãe. Sim, eu dou. Bejinho, quiducha até já
Perfuma-se, em exagero, com ar enojado, nos braços, no cabelo, no pescoço, encolhe os ombros, e põe na boca também. Começa a ficar nublado do exagero de perfume.
O carro pára à porta da sopa da pobre.
Vê-se o motorista a sair, contorna o carro, e vai abrir a porta de trás. Quando a porta abre sai uma lufada de fumo.
Sai uma figura imponente e bem-vestida, esbraceja ao sair, envolto no fumo, mas que logo se recompõe. Traz um chapéu alto, uma bengala, e um grande casaco leopardo dos ombros até aos pés.
Tio
Baltazar, traga o saco.
Baltazar, vai ao porta- bagagens, de onde retira um saco enorme, castanho
Tio
Mas, tá doido? - grita enquanto dá uma bengalada em Baltazar - O Chanel, Baltazar, o Chanel. Já viu que mal que esse fica, com este casaco que tenho vestido? Ton sur Ton, Baltazar.Estilo, Moda,… qualquer coisa… Isto é insuportável...
Impaciente
Não sabem nada. O preto Baltazar, o preto.
Baltazar
EU?
Tio
Não é nada você, homem, é o saco!- Mas que parvo que este me saiu
Dá-lhe outra bengalada e vai ele mesmo buscar o saco
Pendura o saco nas mãos de Baltazar
O tio dirige-se para junto dos sem abrigo, de braços abertos, seguido logo atrás, por Baltazar.
Tio
Meus queridos, como vão passando? Ai, tão magrinhos, tão elegantes. Muita fominha, não? pois claro. Mas olhem que lhe fica tão bem
Pega na mão de um sem abrigo esquelético e com ar abatido, e faz com que este dê uma volta, sobre si.
Tio
Olhe para si. Quem o viu, e quem o vê. Desde a semana passada, para cá, emagreceu imenso. É que não lhe fica nada mal. Está janota.
Saca da mala, de maquilhagem, e rapidamente faz-lhe umas rosetas coloridas na cara.
Tio
Um tonzinho e até parece que foi ao solário. Perfeito, fazia um figurão na Vogue.
Ajeita-lhe a gola do casaco, dá umas voltas ao cachecol, dá-lhe uns toques no cabelo, com uma escova e laca, que saca da mala, e o outro fica irreconhecível.
Tio
Pronto, agora sim. É preciso é ter estilo.
Sem-abrigo 1
Veja lá o que faz. Da última vez que passou por cá, não comi durante dois dias.
Tio
Que horror, o que as pessoas dizem. Então não se vê logo? Mas onde é que você anda a pedir? Na Morais Soares? No Rossio? Só lá, é que você passa despercebido. Mas olhe, não foi isso que eu vim cá tratar hoje. Hoje tenho um jantar com uns amigos influentes e para vos defender, preciso de levar amostras de toda a comida que servem por aqui. E olhe, divida em quatro caixas, que é para cada representante poder avaliar. E muita salada, para colorir e sempre dá outro aspecto.
Baltazar – grita -
Dê cá o saco. Estão aqui umas maçâs com óptimo aspecto
Diz enquanto observa atentamente as maçâs.
Não são portuguesas. E ainda por cima são verdes.
Sem-abrigo 2
Então?, são verdes porque são Smith
Tio
Smith, não. Bettencourt, meu querido Bettencourt. Tudo o que é verde, é dele. Quer ver que você sabe mais que eu? Você por acaso já foi ao estrangeiro, já? Eu, que já fui mais de vinte vezes? Tadita da criatura, já fala, acha que já sabe.
Baltazar – grita –
Traga o saco.
Pega na cesta e entorna todas as maças para dentro do saco.
Sem-abrigo 2
Então? Leva as maças todas? Mas é a fruta que temos para hoje.
Tio
Devia estar era agradecido. Tudo verdíssimo. Nem daqui a quinze dias aquilo estava bom. É um favor que vos faço.
Sem-abrigo 1
Aqui está, Tio, o que me pediu. Quatro caixas, com o jantar de hoje, separadas e com muita salada. Aproveitei e trouxe o meu também. Croquetes. É servido?
Tio
Horrorizado
Croquetes? Nem pensar. Você já viu bem, o seu tamanho? Um homem como você, não se sustenta a croquetes, e depois já viu, é só fritos. Isso só lhe faz é mal.
Baltazar – grita –
Guarde os croquetes do homem. Olhe, e dos outros também. É menos um problema na vida deles, e é a minha boa acção de hoje. Realmente, este país vai de mal a pior. Onde é que isto já se viu? Croquetes? Tss,tss,tss à miséria a que chegamos.
Baltazar apressa-se, a retirar do saco preto umas marmitas, e começa a recolher toda a comida dos sem abrigo.
Tio
Então e mais nada?
Não bebem nada? .
Sem-abrigo
Às vezes, quando está frio, dão-nos também uma pinguita, mas hoje não deram.
Tio
Não deram? Mas você já viu o frio que está hoje? Faça o favor de ir lá dentro imediatamente reivindicar o que é seu, homem.
O sem-abrigo, desaparece no interior, para voltar de seguida, carregado com algumas garrafas de vinho tinto.
Tio
Ora deixe lá ver…
Observa os rótulos
Pois,… vou levar isto também. Vou levar, para que eles possam ver o que vocês criaturas bebem. Malíssimo. Um vinho sem qualidade nenhuma. Onde é que isto já se viu, tratarem pessoas da vossa categoria desta forma?. Assim posso provar-lhes o que está a acontecer.
Baltazar- grita- Vamos embora.
Adeus amigos, para a semana passo outra vez. Vou fazer uma recolha de roupa, para ajudar as pessoas do Haiti, e o que não me servir, não conseguir vender ou eu não gostar trago para vocês, meus queridos. Adeus
Sketch Costumes
GENÉRICO DA REPORTAGEM
Personagem José na rua a andar em Alfama.
Entra a repórter em off.
OFF
José “Arranhas” Santos, 38 anos, guitarrista de fado profissional e nascido em Alfama. Este homem devia ser visto como um dos últimos verdadeiros alfacinhas. Na verdade muitos são os que lhe acusam de ser um perigo para os costumes tradicionais da cidade e do País. Sofre do raro sindrome de dislexia gestual.
Imagem José, entrevistado em Alfama,na rua num constante estado de tensão, olha muito sobre o ombro.
JOSÉ
(em pé, parado, com um esgar nervoso, olhando para a câmara)
Claro que sim, complica-me a vida em tudo. Aqui no bairro ‘ malta já me c’nhece, mas quando tenho de sair… ui! Por isso peço a Deus que me leve este castigo tal como o trouxe, de um dia para o outro.
Imagem José a benzer-se com o sinal de chamar o autocarro.
É um granda castigo.
Imagem José andando, uma vez mais, aleatoriamente por Alfama recebendo afecto das pessoas .
OFF
José é desde 2007 seguido com atenção pela Drª Marta Luz, chefe do departamento de psicologia da faculdade que há muito procura uma razão de ser para este bizarro comportamento.
Imagem Drª Marta, andando no corredor da faculdade e senta-se numa cadeira no seu gabinete e fala virando-se para a repórter.
DRª MARTA
É verdadeiramente um paradigma este caso. Um homem muito doce de natureza e que tantas vezes é visto como um pária social pela raridade desta enfermidade. Só temos relatos de cerca de 5 casos na 1ª metade do séx. XX e sempre fora da Europa. Até nisso todo este caso é uma originalidade.
Pequena pausa.
IMAGEM JOSÉ NO TRÂNSITO RESPONDENDO A OFENSAS,PÕE A MÃO DE FORA E FAZ O GESTO DE PEDIR A CONTA.
Exactamente por desconhecermos o porquê do seu surgimento, não podemos prever o nem encontramos até agora uma solução. É um destino cruel o deste homem que, tendo a plena consciência dos seus actos, não consegue por força da vontade evitar um único.
OFF
“Arranhas” nunca se vitimiza. É um homem com um cruel destino mas que recusa-se a vergar perante este seu triste fado.
Imagem José chamando o autocarro com um manguito perante o olhar atónito dos idosos na paragem e sofre a fúria de uma que lhe bate com a bengala.
Voltam a entrar as imagens de José a ser entrevistado na rua. Fala para a câmara.
JOSÉ
Olhe nunca entre em desespero porque continuo a tocar a minha música, graças a Deus, que é a minha grande alegria. E o Benfica…
Mas eu sei que um dia estes demónios vão daqui sair (mexe os dedos). Eu sei que sim…
Sorri .
Volta a entrar as imagens de José andando na cidade.
Sketch Actualidade
Genérico do jornal
Pivot felino dirigindo-se para a câmara.
PIVOT
Boa noite. Hoje é um dia histórico. Pela primeira vez um nosso semelhante foi eleito como membro activo da comunidade, tendo sido escolhido como jurado no caso mais mediático dos últimos anos em Boston. Sal Esposito é o pioneiro que nem mesmo assim conseguiu evitar alguns estereótipos, ofensas e algum do nível de humilhação que fomos sujeitos nos últimos séculos.
Imagem do tribunal. Sal está na bancada. As imagens saltam entre ele e o advogado que está fazendo as suas alegações. Sal está irrequieto com um novelo de lã.
ADVOGADO
(em pé, parado, com um olhar tenso, olha directamente para Sal e depois dirigindo-se ao juiz)
Meritíssimo é favor chamar a atenção do bichano no júri
Imagem do juiz olhando para o advogado com uma certa fúria no olhar.
JUIZ
Pela primeira e última vez: não vou tolerar discriminações e ofensas quanto à orientação no meu tribunal. Estamos entendidos Doutor?!?
Imagem da sala de deliberação do júri. Vê-se um voto colectivo de mão levantada. Sal continua entretido com o novelo. Um dos jurados levanta-se e dirige-se a Sal.
Jurado
Já só faltas tu. Qual é a tua orientação?
Imagem de Sal a cuspir uma bola de pêlo em cima da mesa. O jurado bate as mãos e esfrega as palmas.
JURADO
É assim mesmo! Vamos enforcar o sacana!
Pequena pausa.
IMAGEM DO PIVOT FELINO NOVAMENTE QUE AO ENTRAR ESTÁ AINDA OLHANDO PARA BAIXO, DIRECTAMENTE PARA O MONITOR
Pivot
Sal Esposito um pioneiro, um herói e dono de um novelo com umas curvasss… Prrrrr!
Fonte: JN
A hipopótama Nikita
“Hipopótamo aproveita cheias para fugir”
“Nikita, de duas toneladas, partiu a jaula e nadou para fora do zoo.”
In http://dn.sapo.pt/Inicio/ (há uns dias).
Num talkshow, o apresentador dirige-se ao público.
A – E, como testemunho da sua coragem contra o sistema opressivo dos jardins zoológicos, convidámo-la a vir ao nosso programa de hoje. Senhoras e senhores, a grande Nikita!
Aplausos. A hipopótamo Nikita entra no palco, tropeçando e fazendo um buraco no chão do cenário.
N – Ai! Desculpe… Foi sem querer…
A – Não faz mal, sente-se!
N – Olhe, não é querer ser mal-educada, mas tenho medo que esse banquinho que o senhor tem aí seja demasiado frágil para a voluptuosidade do meu belo corpo. Posso ficar de pé?
A – Esteja à vontade, faça como se estivesse em casa.
N – Ai, não me diga isso! Ficar outra vez presa numa jaula como na minha última morada? É isso que o senhor quer?
A – Não, nada disso… Queria apenas que se sentisse confortável!
N – Oh, para isso devia ter pensado em arranjar um pequeno charco para eu me poder banhar! Acha mesmo que esse copinho de água ia servir? Nem para uma unha…
A – Peço imensa desculpa, para a próxima pensarei numa outra solução que se adapte aos convidados, para que estejam mais confortáveis.
N – Pronto, já percebi. Queria só deixar claro que acho que estou a ser muito mal recebida. Na minha nova morada tenho tudo! Olhe, tenho um belo riacho e uma ponte onde me abrigar para dormir, além da imensa adoração dos fãs que me visitam e me deixam imensas prendas: rebentos de capim, os meus preferidos, e umas belas canas de bambu importadas!
A – Não a querendo interromper, gostava que nos falasse um pouco do que a trouxe cá. A senhora é um exemplo de atitude e coragem contra a opressão dos humanos em relação aos animais!
N – É verdade! Eu acho que é uma falta de humanidade o que os humanos fazem a alguns animais. E geralmente fazem-no aos animais mais bonitos, o que, por si só, é uma injustiça tremenda! Fazem-no aos hipopótamos, como eu, aos leões, aos ursos, não fossem esses alguns dos animais preferidos nos circos.
E – Pois é, não nos esqueçamos que não é só nos zoos que estas situações acontecem, nos circos existem animais nas mesmas condições!
N – Nas mesmas condições? Pior! Sabe, tive uma amiga leoa, éramos íntimas. Ela trabalhava num circo, coitada… Obrigavam-na a saltar pelo meio de círculos em chamas, a andar sobre as patas traseiras! Coitadinha, uma trabalheira, ela sofria imenso!... Tanto que a pobrezinha acabou por terminar com a vida.
E – Suicidou-se?
N – Mais ou menos. Terminou com a vida do treinador, depois fizeram queixa à polícia e eles é que terminaram com a vida dela.
E – Ultrapassando este triste incidente, Nikita, tem alguma palavra de apoio que possa dar aos animais que sonham um dia seguir os seus passos e libertarem-se do domínio humano?
N – Rezem, rezem muito para que os humanos poluam, usem muitos desodorizantes com CFC’s e aerossóis e que não consigam entender-se em relação ao tratado de Quioto.
E – Então porquê?
N – Porque quanto mais poluírem, mais catástrofes naturais há pelas alterações climáticas, maiores hipóteses de se abrir um buraquinho na jaula e poderem ir nadar para longe.
E – Nikita, muito obrigado pelo seu depoimento…
Interrompendo
N – Espere lá que ainda tenho umas coisinhas a dizer. Gostava de dizer que existem muitas formas de exploração dos animais! Falámos há pouco dos jardins zoológicos, mas há outras como, por exemplo, a exploração capitalista da SONAE. Façam uma doação no número de conta que está agora a passar em rodapé e vão ao site www.libertemosanimaisoprimidospelasonae.org !
Nikita tira um cartaz de trás das costas e começa a gritar
N – Libertem a Popóta! Libertem a Leopoldina!
E – Fiquem para o próximo episódio, senhores espectadores, teremos outros convidados de peso, como o famoso mamute Manfred do Ice Age! Fiquem connosco e descubram como sobreviver a uma era glaciar! Não percam o próximo programa!
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
Pala Mite

INT. PROGRAMA DE TELEVISAO. TARDE
O APRESENTADOR do programa anuncia a entrada no estúdio do PALA MITE!
Seguidamente teremos a presença do cantor revelação.
Peço um forte aplauso para Pala Mite.
Pala Mite entra no estúdio. Aplausos! O apresentador cumprimenta-o e ambos se sentam no sofá.
Antes de mais seja bem-vindo!
PALA MITE
Obrigada. É um prazer estar aqui!
APRESENTADOR
Uma primeira questão que se impõe é o porquê do nome Pala Mite?
PALA MITE
Quando era chavalo o pessoal amigo chamava-me Pala.
E porque lhe chamavam Pala?
PALA MITE
Porque eu andava sempre de boné. E a pala do boné cobria praticamente meu rosto.
APRESENTADOR
E Mite? Porquê o Mite?
Porque eu sou uma bomba, modéstia à parte!
Dinamite, Pala Mite, topas?
APRESENTADOR
Original!
PALA MITE
É isso mesmo que eu quero!
APRESENTADOR
E como começou a sua paixão pela música?
Isso já é desde chavalo!
APRESENTADOR
A partir de que idade começou a cantar?
PALA MITE
Desde que me lembro já cantava umas pimbalhadas!
APRESENTADOR
E como surgiu a oportunidade de gravar este CD?
O apresentador mostra para o público o CD do Pala Mite.
Foi um bocado por sorte. Eu costumava cantar nuns bares e pronto foi assim.
APRESENTADOR
E em que bares costumava cantar?
Nuns bares, por aí!
APRESENTADOR
Quer aproveitar a oportunidade para dizer algo aos portugueses acerca deste CD?
PALA MITE
Sim. Portugueses e portuguesas estejam muito atentos ás letras das músicas!
APRESENTADOR
Pretende com as letras das suas músicas passar alguma mensagem ao público?
Claro! Comprem e oiçam com toda a atenção!
APRESENTADOR
Bom e chegou o momento de ouvirmos o primeiro single deste CD, que se chama vem!
Um forte aplauso para Pala Mite!
Aplausos. Pala Mite levanta-se e dirige-se ao palco. Começa a cantar.
(Letra da música)
O mundo roda e tudo muda sem parar
Mas uma coisa permanece igual
A qualidade e o preço baixo do Pala Mite
E o amor por Portugal
Vem ao Pala Mite de Janeiro a Janeiro
O preço é sempre baixo a toda à hora, o ano inteiro
Tudo aqui é bem melhor
Tem de tudo muito variadinho
Tudo aqui tem muito sabor
Tudo é feito com carinho
Aqui o preço é baixo o ano todo, a toda a hora
Além da qualidade a poupança é verdadeira
O Pala Mite toda a satisfação traz
Aqui com o Pala Mite o seu dinheiro vale mais, vale mais, vale mais
Vem ao Pala Mite de Janeiro a Janeiro
O preço é sempre baixo a toda a hora, o ano inteiro
Vem ao Pala Mite de Janeiro a Janeiro
O preço é sempre baixo a toda a hora, o ano inteiro
Pala Mite… vem cá!
Aplausos. Apresentador dirige-se até ao palco.
Algumas palavras finais?
PALA MITE
Meus contactos estão a passar em rodapé?
(FIM)
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
Quem conta um conto ... I

I – EXT. RUA. MANHÃ
Bom dia!
ANA
Bom dia!
Bom dia vizinha!
JÚLIA
Bom dia! Nem sabe o que os meus olhos acabaram de ver!
Estou chocada!
OLGA
O quê vizinha?
JÚLIA
O António e a neta de Josefina têm um caso de certeza!
Passaram aqui super íntimos, nem deram pela minha presença!
Eu sempre desconfiei daqueles dois!
OLGA
O António, o carpinteiro?
JÚLIA
Esse mesmo!
OLGA
Nem posso acreditar! Ele parece tão boa pessoa e anda a fazer isto à mulher!
JÚLIA
É para tu veres como as coisas são!
E o pior é que nem se deram ao trabalho de disfarçar!
OLGA
Pouca bergonha!
II – INT. MERCEARIA. MANHÃ.
Bom dia!
VASCO
Bom dia! Como é que vai isso?
OLGA
Vai indo…
Já sabe da pouca bergonha que se passa aqui na vila?
VASCO
Não.
OLGA
O António e a Rosa vão se divorciar!
VASCO
Divorciar?
OLGA
É verdade, também a mim me custou a acreditar quando soube!
Mas acho que a Rosa faz muito bem em não perdoar a traição do marido!
VASCO
Traição?
OLGA
Sim! O António andava a trair a mulher com a neta da Josefina.
A mulher descobriu tudo e vai se separar dele.
VASCO
Quem diria!
OLGA
É verdade, quem diria?
III – INT. MERCEARIA. TARDE
Boas!
VASCO
Ora viva!
ELSA
Tem acendalhas? Quero fazer uns grelhados no carvão mais logo!
VASCO
Tenho sim e tenho também uma notícia fresquinha!
ELSA
Que noticia?
VASCO
O António fugiu para o estrangeiro com a neta da Josefina!
ELSA
Quando foi isso?
VASCO
Foi agora há pouco!
ELSA
E a Rosa coitada, como está?
VASCO
Pelo que sei mal, muito mal… Está no hospital em estado crítico. Teve um enfarte quando soube!
Elsa dirige-se para casa a pé com um saco de compras na mão e cruza-se com ROSA na rua. Rosa tem cerca de 40 e tal anos.
Vizinha sabia que a Rosa está em estado crítico no hospital?
Entre a vida e a morte?
ROSA
O que lhe aconteceu?
ELSA
Foi alvejada esta manhã. Ainda não se sabe quem foi o autor dos disparos.
ROSA
Coitada! Anda agora ai uma ladroagem.
ELSA
Pois…longe vai o tempo em que esta era uma vila pacífica!
ROSA
Infelizmente é verdade!
Rosa está na cozinha a preparar o jantar. O marido ANTÓNIO chega a casa após mais um dia de trabalho e senta-se no sofá da sala.
O jantar está pronto?
ROSA
Quase… Estou a fazer um belo de um estufado que tu tanto gostas!
ANTONIO
Estou cheio de fome!
ROSA
Se quiseres vai petiscando qualquer coisa enquanto o jantar termina!
Sabes o que aconteceu à pobre da Rosa?
ANTONIO
Diz…
ROSA
Foi alvejada pelo marido.
ANTONIO
Pois…
Começaram a discutir por causa de um cão de uma vizinha e no calor da discussão, ele saca de uma arma e dá-lhe um tiro.
ANTONIO
Pois…
ROSA
A pobre coitada está entre a vida e a morte no hospital.
António onde tens o teu BI?
ANTONIO
Pois…
ROSA
Onde tens o teu BI?
ANTONIO
Sai da frente!
ROSA
Já saio. Diz-me só onde tens o teu BI?
ANTONIO
Tenho aqui comigo porque?
ROSA
Quero só ver a validade.
Se não formos nós mulheres a estarmos atentas a isso, vocês homens…
Toma e agora sai lá da frente!
Eu sou Rosa. Meu marido é António. Rosa, António, António, Rosa…
Quero o divórcio!
O que disseste?
ROSA
Quero o divórcio!
ANTONIO
O divórcio? Eu sei que não estava a dar muita atenção ao que estavas a dizer mas não é caso para tanto!
ROSA
Não é isso…
ANTONIO
Então? Que fiz eu desta vez?
ROSA
Achas que quero continuar a viver com um homem que me alveja, que me deixa entre a vida e a morte por causa dum mero cão?
Tens já aí os papéis para assinar?
(FIM)
Como escrever um argumento original em 24 horas.

I – INT. GABINETE DIRECTOR FICÇAO TVI. MANHÃ
Ok. Podem entrar.
Com licença Sr. director!
PEDRO
Entrem!
Façam o favor de se sentarem!
Os jovens sentam-se e o Pedro respectivamente.
Meus senhores, convoquei esta reunião pois tenho uma proposta a fazer-vos!
Como sabem nós tornamo-nos líderes de audiências nos últimos anos. Esta vitória deve-se em grande parte ao êxito que se revelou a aposta na ficção nacional. As nossas novelas conquistaram o público português e claro que isso só foi possível graças ao brilhante trabalho de todos os intervenientes.
Enquanto Pedro fala Vasco e José não se atrevem a interrompê-lo, continuando silenciosamente a escutá-lo.
Contudo e após fazer uma análise retrospectiva do que foram as nossas novelas nos últimos anos, considero pertinente haver inovação em termos de argumento se é que me faço entender.
VASCO
Claro!
JOSÉ
Perfeitamente!
PEDRO
Aquilo que pretendo é que a próxima novela seja inovadora, que surpreenda o telespectador! Quero uma história diferente, completamente diferente do habitual! E conto convosco para a consecução deste objectivo.
VASCO
Claro, pode contar connosco!
JOSÉ
É uma honra mais uma vez poder contribuir para a evolução desta grande família televisiva.
PEDRO
Acham que podem me apresentar uma proposta amanhã?
VASCO
Com certeza!
PEDRO
Então amanhã de manhã reunimo-nos novamente.
Vasco e José levantam-se. Pedro também se levanta e cumprimentam-se com um aperto de mão.
PEDRO
E não se esqueçam algo completamente inovador!
II – INT. GABINETE VASCO E JOSÉ. FINAL DA TARDE.
Vasco e José estão sentados em torno das suas secretárias. A desorganização é total. Existem inúmeras folhas espalhadas em cima das secretárias.
Tamos lixados. Como vamos conseguir uma ideia inovadora até amanhã?
VASCO
Qualquer coisa hade surgir!
JOSÉ
Já tamos a trabalhar há horas nisto e até agora nada de novo!
Acabei de ter uma ideia!
JOSÉ
Conta!
A solução que precisamos está aqui!
JOSÉ
Não percebo…
VASCO
Obvio, não?
JOSÉ
Não percebo como o último argumento que escrevemos, poderá ajudar!
VASCO
Pegamos nas ideias deste argumento e fazemos apenas umas ligeiras alterações!
JOSÉ
(surpreendido)
Tas a brincar não tas? Só podes estar a brincar! O director quer algo inovador!
VASCO
Tens alguma ideia melhor?
José nada responde mantendo-se em silêncio.
Olha escuta: mudamos o local da acção, em vez de se passar em Lisboa, passa-se nos açores por exemplo, mudamos o nome e as posições das personagens e voilá!
JOSÉ
Como assim mudar as posições das personagens?
VASCO
Eh pah tenho que te explicar tudo!
Então em vez de ser uma menina rica a apaixonar-se por um menino pobre, faremos um menino rico a apaixonar-se por uma menina pobre.
JOSÉ
Tas maluco? Eh pah isto não vai resultar!
VASCO
Após algumas alterações, a história será completamente diferente!
O director não topará nada!
JOSÉ
(falando baixinho)
Isto vai correr mal!
III – INT. GABINETE PEDRO. MANHÃ
Espero que me surpreendam! Sou todo ouvidos!
VASCO
A nossa história é essencialmente uma história de amor. Mas não é uma história de amor qualquer, é uma história de amor nos açores! Uma campónia apaixona-se por um jovem empresário, filho de uma das famílias mais ricas da região. A diferença social torna-se desde logo um peso e a família não aceita o relacionamento. São muitos os obstáculos com os quais se vão deparar ao longo da novela: a família, uma ex-namorada que vive obcecada em reconquistá-lo.
Pedro mantém-se em silêncio escutando. José continua nitidamente nervoso.
(a gagejar)
Para dar um toque de suspense pensamos que seria interessante haver o homicídio do pai do jovem apaixonado. Quem o matou? Terá sido o próprio filho para ficar com a herança? Terá sido a esposa que já não o suporta mais? Terá sido o sócio da empresa?
E para dar um toque de comédia pensamos em colocar em cena uma personagem cómica, tipo cozinheiro desastrado que nunca acerta com o tempero da comida e as sobremesas são um desastre!
VASCO
Então que acha desta inovadora história?
Eu disse que queria algo inovador!
VASCO
Mas isto…
PEDRO
Interrompi-te enquanto estavas a falar?
Então agradecia que também não me interrompesses.
Como estava dizendo eu pedi-vos algo inovador…
Um novo silêncio se faz sentir. Vasco e José já escorregam nas cadeiras. Ao fim de uns instantes de silêncio, Pedro esboça um sorriso.
E de facto adorei a vossa história! É mesmo o que eu pretendia! É original, é diferente do que tem sido feito até aqui! E sabia que não me iam deixar ficar mal.
Quero que comecem hoje mesmo a escrever o guião.
Cá está o argumento todo.
PEDRO
Já está feito?
Estou deveras surpreendido com o vosso empenho!
É assim que eu gosto!
(FIM)
Obsessao!

INT.GABINETE PSICÓLOGO. DIA
Hoje iremos continuar a avaliação iniciada na sessão anterior!
MULHER
Ok dôtor…
PSICÓLOGO
Vou mostrar-lhe umas imagens e apenas terá que me dizer o que vê nessas imagens!
MULHER
Ok.
Ora diga-me, o que está a ver?
MULHER
Um avião da Sata.
PSICÓLOGO
Hummm… Ora e nesta?
Nessa… um avião da Sata!
PSICÓLOGO
Humm…e nesta?
Outro avião da Sata!
PSICÓLOGO
E agora?
Dôtor quantas mais imagens de aviões da Sata vai me mostrar?
PSICÓLOGO
A próxima imagem é a última.
Veja com atenção esta imagem e diga-me… o que vê?
MULHER
Oh Dôtor desculpe lá perguntar mas porque raio me está a mostrar todas estas imagens de aviões da Sata?
PSICÓLOGO
Nesta última também vê um avião da Sata?
MULHER
Claro!...O dôtor ta-se a sentir bem? Quer um copinho de água?
Bem… E se nós prosseguíssemos para outro exercício?
MULHER
Tem a certeza que não quer um copinho de água primeiro?
PSICÓLOGO
Estou óptimo…Bem, o próximo exercício consis…
(exclamando bem alto)
Um avião da Sata!
PSICÓLOGO
(um pouco irritado)
Como eu estava dizendo o proxim…
MULHER
(Exclamando novamente bem alto)
Um avião da Sata!
PSICÓLOGO
(claramente irritado)
Peço-lhe que se concentre aqui na sessão terapêutica!
MULHER
Está ali um avião da Sata!
Porque nunca acreditam em mim?
(FIM)
Contributo!!!

REPÓRTER
(para a câmara)
Faltam 45 dias, 14 horas, 32 minutos e 51 segundos para a concretização do projecto “Limpar Portugal” e a RTP veio para a rua saber se os portugueses têm conhecimento deste propósito.
REPÓRTER
(para a câmara)
Faltam neste momento 45 dias, 14 horas, 32 minutos e 19 segundos… e vou tentar entrevistar estes jovens.
(para os jovens)
Boa tarde! Têm um minutinho?
HOMEM
Claro!
REPÓRTER
(para a câmara)
Faltando neste momento 45 dias, 14 horas, 31 minutos e 49 segundos, vou dar início à entrevista.
(para os jovens)
Têm conhecimento do projecto Limpar Portugal que se irá realizar no dia 20 de Março?
HOMEM
O homem vai respondendo ás questões e comendo ao mesmo tempo.
REPÓRTER
E sabe em que irá consistir exactamente esta iniciativa?
HOMEM
Limpar Portugal!
REPÓRTER
Pois…E irão participar?
HOMEM
Não posso!
REPÓRTER
Tem compromissos profissionais ou pessoais nesse dia?
HOMEM
(falando baixinho)
Compromissos? Eu não sou um homem de compromissos.
Eu prefiro dar umas (se é que me entende) e depois xau!
REPÓRTER
(embaraçado)
Pois compreendo!
Diga-me então, porque não irá participar?
HOMEM
Participar no quê? Se há mulheres, eu participo!
Sabe como é, não podemos perder as oportunidades de dar uma!
Eh eh eh
REPÓRTER
Eu estava a referir-me ao projecto Limpar Portugal!
HOMEM
Ah… Sim… O projecto!
Olhe não vou participar porque não posso!
REPÓRTER
Até ai já percebemos, mas porque não pode?
HOMEM
Já viu algum aluno a dar aulas?
REPÓRTER
Hmmm…
HOMEM
São os professores que dão aulas.
REPÓRTER
Pois…
HOMEM
O papel dos professores é ensinar e o papel dos alunos é aprender!
E só podem haver professores se houverem alunos.
REPÓRTER
Pois… é um facto, mas porq…
HOMEM
Posso lhe dar outros exemplos: só há médicos, se houverem doentes, só há motoristas, se houverem passageiros, só há jardineiros, se houveram jardins, percebe?
REPÓRTER
Percebo perfeitam…
HOMEM
A minha função é garantir que o dia 20 de Março seja um sucesso!
REPÓRTER
Mas como se não vai participar?
HOMEM
Esse projecto não se limita a esse dia, há todo um trabalho prévio que tem que ser feito!
REPÓRTER
Tem estado a ajudar a organizar o evento?
HOMEM
Sim, claro!
Ainda daqui a pouco após este piquenique vou dar mais um contributo.
REPÓRTER
Como? Irá participar numa reunião?
HOMEM
Não. Vou deixar o lixo do piquenique no chão e trouxe também o lixo todo que tinha lá em casa. E disse aqui à miúda para trazer também o lixo dela. Todos nós devemos contribuir para este projecto.
REPÓRTER
Está a dizer-me que o seu contributo é sujar?
HOMEM
Tem que haver quem suje, para haver quem limpe! O meu papel é sujar!
Se não houver nada para limpar o projecto irá ser um fracasso total e não queremos isso para o nosso país pois não?
REPÓRTER
(estupefacto)
Pois…
HOMEM
Olhe, desde que soube do projecto até tenho sujado muito mais para me certificar que esse dia será um sucesso, que haverá imenso lixo para ser apanhado. Quem sabe ainda conseguimos entrar no guiness? é disso que Portugal precisa. Precisa de se destacar, de se mostrar ao mundo. Eu acho muito bem iniciativas como estas.
REPÓRTER
(com um sorriso amarelo)
Obrigado pela entrevista.
HOMEM
De nada. E pessoal já sabem: façam como eu e dêem o vosso contributo!
Vamos fazer desse dia um marco na história de Portugal.
Bem e agora vou dar uma, contribuir para o bem-estar da miúda.
Eu sou um homem de causas!
REPÓRTER
Faltando neste momento 45 dias, 14 horas, 25 minutos e 18 segundos, dou por terminada esta reportagem.
José Alves, RTP, Lisboa!
(FIM)
Talk show: inspiração
Pope-A's Visit
The State | Vídeo do MySpace
Para inspiração da cena de porrada do talk show.
Chauncey Gardiner
domingo, 24 de janeiro de 2010
Sketch físico - Foste enganado
O rapaz sorri e agradece.
Aparece uma frase no ecrã a dizer que “5 minutos depois...”
O rapaz a tirar vários carrinhos, utilizando o dinheiro real, e em troca os clientes davam-lhe as típicas moedas de plástico.
“5 minutos depois...”
Ve-se o rapaz dentro do supermercado, com as compras no balcão e prestes a pagar.
Faz um total de 5 euros e 49 cêntimos
RAPAZ
Não há problema.
O rapaz retira do bolso as moedas de plástico que tinha recebido e dá á Caixeira.
Sorri-lhe e pisca-lhe o olho.
Pode ficar com o troco.